terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Como anda a EQ da sua guitarra?

Um detalhe (que não tem nada de detalhe) muito importante na timbragem está nas posições dos knobs do seu amplificador de guitarra. Equalizar sua guitarra em estúdio, ao vivo, ou mesmo para tocar no conforto da sua casa não é a tarefa mais difícil do mundo, mas também não é das mais fáceis.

Numa época em que a cada 3 metros quadrados se encontra um guitarrista, o diferencial
muitas vezes está no timbre que o guitarrista consegue alcançar (sem desprezar originalidade e técnica).

Este post não tem nenhuma, sinceramente, nenhuma pretensão de falar sobre equalização de maneira técnica. Então você não vai encontrar explicações sobre medidas de frequência, faixas de frequência em instrumentos e etc... O objetivo aqui é pura e simplesmente falar sobre algumas experiências de timbragem que fazem parte da percepção que eu fui construindo ao longo do meu tempo como guitarrista.

Como base pra essa postagem, vamos imaginar um amplificador de dois canais, um clean e um distortion, com controles de grave, médio, agudo e brilho (ou no inglês: bass, mid, treble e presence ou bright). A partir daí vou falando sobre a EQ.

Jogando com os graves e agudos

Os controles de grave e agudo na EQ do seu canal, seja limpo ou sujo, irão afetar consideravelmente o timbre de acordo com o modelo da sua guitarra e seu tipo de captação. É claro que cada caso é um caso, pois uma mesma guitarra poderá responder diferentemente com um captador humbucker ou com um single-coil. Então, é difícil dizer algo como regra, ou receita de bolo.

Antes de se preocupar com a EQ do seu amp, o guitarrista precisa primeiro conhecer bem sua própria guitarra, como ela se comporta em relação às frequências graves e agudas quando desligada, ou quando ligada num amp como todos os knobs na mesma posição, ex: 12h. O jogo pra montar um timbre legal é trabalhar no canal de EQ do amp de modo a destacar o que a guitarra oferece muito pouco e cortar o que ela tem em excesso. Importante considerar também que cada amp tem uma tendência timbrística própria (principalmente em valvulados). E isso vai afetar de algum modo a quantidade de aumento ou redução de ganho em graves e agudos. Enfim, é preciso conhecer bem seu amp e guitarra.

Por exemplo, se sua guitarra for uma stratocaster com 3 single e com agudos cortantes, é interessante ressaltar os graves e dar um leve corte nos agudos, pois a tendência do próprio instrumento é ter um destaque nessa faixa de frequência, mesmo com a atenuação no knob de treble. Já se sua guitarra for uma Les Paul com 2 humbucker e com graves cheios, é interessante "abrir" um pouco a EQ, dando um destaque nos agudos, e se preciso fazer um corte leve no knob de bass. Pode parecer óbvio isso, mas já vi guitarristas iniciantes tocando em Les Paul com o knob dos graves quase no talo!

Enfim, o lance é equilibrar as coisas. Uma Les Paul com graves de sobra e agudos espremidos vai soar meio apagada numa banda, meio opaca. Já uma Strato com agudos gritantes vai irritar o ouvido do vocalista da sua banda, e o baixista então, vai ser o primeiro a reclamar.

Então, como via de regra, não há regras, o importante é saber jogar com a EQ, quando se fala de graves e agudos, o que falta no timbre da própria guitarra. No caso de uma strato puxada pros agudos, é bem interessante deixar os agudos na EQ em torno das 9 ou 10h, e os graves por volta das 13h (Fig. 1). E se for uma LP com graves bem cheios e gordos, os graves podem ficar em torno das 11h e os agudos por volta das 13 ou 14h ou até mais (fig 2).


Fig. 1
Fig. 2

Médios: timbre embolado x timbre magro (em busca de acordes mais cheios e maior definição de notas)

Já escutei da boca de um amigo meu metaleiro que regular os médios não dá trabalho algum, basta colocar tudo no zero e deixar os graves e agudos no talo. Tá, tem gente que gosta desse tipo de EQ, e como gosto é algo muito subjetivo, pra muitas pessoas é uma das melhores EQs possíveis.

Independente do seu conceito pessoal de regulagem, tem duas coisas que valem a pena ressaltar sobre os médios:

a) deixe o controle de médios no talo e o risco do som embolar é tão grande quanto o tamanho do seu amp;
b) deixe o controle de médios no ZERO e seus acordes abertos vão soar um tanto quanto esquisitos, como se o acorde tivesse menos notas do que o que realmente é tocado, faltando definição.

A grande sacada, e talvez uma dificuldade em encontrar a regulagem precisa de médios, é que ao girar o Knob no sentido horário, em algum ponto (que não há como afirmar qual o ponto exato, pois depende do instrumento e do amp) se encontra uma melhor definição das notas e um certo ganho de corpo no timbre. É uma linha tênue entre ganhar corpo e definição e ao mesmo tempo evitar um som embolado. Ver figura abaixo (Fig. 3):

Fig. 3

É óbvio que cada guitarra também vai responder de modo peculiar quando o assunto é o knob de médios. Mas no geral, pelo que eu pude perceber até hoje uma strato aceita mais médios na EQ do que uma Les Paul, antes de começar a embolar o som. Então, como não tem regra, vamos jogar algo em torno das 12 ou 13h para Strato e entre 11 e 12h para Les Paul. Em se tratando de médios, essa é uma regulagem legal para aumentar a definição das notas e deixar os acordes mais cheios, preenchendo mais os espaços numa mix, seja em estúdio ou em palco.

Se você na sua situação real de regulagem perceber que pode ir além do sugerido aqui, fique à vontade. Como eu disse nada aqui são regras rígidas e cientificamente comprovadas. Mas vale ressaltar: a regulagem de médios encontra-se numa linha tênue entre melhor definição das notas e "embolar" o som. Lembre-se disso.

E finalmente, os controles de presence e bright: o quê? mas já não tenho que regular os agudos?

Eu levei um bom tempo até perceber a sacada destes controles de EQ. Eles meio que dão uma levantada (que pode variar de alguns poucos até muitos decibéis) nos médio-agudos e agudos. Tá, imagine que você regulou sua guitarra e já mexeu nas 3 principais faixas de frequência (bass, mid e treble). Mesmo assim, é possível que devido ao próprio instrumento (que pode ter um timbre acústico muito fechado) ou até a outros fatores, como calibre de corda, perda de sinal nos cabos etc... o timbre ainda fique meio fechado. Neste momento é que entram os controles de presence e bright. (opinião muito pessoal essa)

Não sei dizer se tem alguma diferença entre um e outro, mas uma coisa é certa, no momento em que mesmo regulando graves, médios e agudos, o som ainda ficou um pouco opaco, esses controles podem dar aquela clareza, ajudar abrir o som e salvar a EQ. Por isso esses são os controles que eu gosto de mexer por último. São mais um recurso adicional do que para uma regulagem inicial de EQ.

Canal clean x canal distorcido

Bom, chegou a hora de falar de algo que é muito pessoal mesmo. Cada músico tem uma noção estética particular e um conceito do que é uma boa timbragem. Uma coisa que até pouco tempo eu não tinha bem resolvida na minha cabeça era a respeito de manter a mesma EQ independente de qual o canal do amp, ou realizar uma EQ própria em cada canal.

Aqui não vou falar nada do tipo, "o ideal é ter uma EQ própria em cada canal", ou "o melhor é deixar tudo regulado igual". Só gostaria de deixar um ponto para reflexão: você já escutou alguma música do guitarrista Eric Johnson?

Os timbres limpo e distorcido dele costumam ter uma variação, sendo o primeiro mais aberto, cristalino e o segundo mais aveludado, com mais sustain. Não tenho certeza, mas já ouvi em algum lugar (não me lembro a fonte, sinceramente) que ele usa um amp para o timbre limpo e outro tipo de amplificador para o timbre distorcido.

Bom, nem todo mundo pode ter dois amps para tocar, mas se você tem dois canais no seu amp e um footswitch, porque não explorar cada canal de forma independente? é meu ponto de vista.

Considerações

Antes de mais nada, neste post a todo momento foram citados exemplos de EQ usando como referência dois modelos: Stratocaster e Les Paul. Isso porque esses dois modelos são clássicos e a partir deles é possível fazer adaptações para outros modelos.

Uma strato tem timbre mais próximo de uma telecaster do que de uma flying V. E uma LP tem timbre mais próximo de uma Explorer do que de uma Superstrat. Então já serve de base para comparação. Basta ver do que mais a sua guitarra se aproxima e fazer as adequações aí direto no seu amp.

Importante sempre lembrar de uma dica. Em se tratando de graves e agudos o ideal é equilibrar as coisas. E quando o assunto são os médios a dica é girar o knob até aumentar a definição e antes de embolar o som da guitarra. Presence e bright fica como recurso adicional, melhor usar depois de regular o restante. O resto fica por conta da pegada do guitarrista.

6 comentários:

  1. Muito bom sua postagem. Pude esclarecer muitas dúvidas.

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  2. Gostei! Deu para aprender bastante.

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  3. Cara esse médio é foda; pois tenho uma guitarra Tagima escala marfim com médio grave, e um amp mg102 cfx com bastante médio também! Já estou quase doido pra tirar esse embolado kkk

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  4. Parabens pela postagem, era o que eu estava procurando

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