Páginas

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Influência das madeiras no timbre de guitarra: qual o limite?

Tem um tempo que não posto nada. Àqueles que acompanham ou que visitam esporadicamente o blog, deixo antecipadamente minhas desculpas. Tenho ficado ausente por falta de tempo mesmo, ou por dificuldade em organizá-lo.

Mas tem uma coisa que já faz um tempo eu queria postar aqui, só que acabei esquecendo, e agora aproveitando a oportunidade resolvi postar. Além disso, é algo que não vai demandar muito tempo para escrever.

Desde o começo, eu gostaria de deixar claro que o interesse desse post não é aprofundar em características do timbre de diferentes madeiras, mas apenas expor algumas reflexões que eu acabei fazendo após muita leitura e debate com outros músicos.

Quem se interessa por este assunto já deve ter em mente algumas idéias como maple tem som disso, mogno daquilo, e por aí vai.
Ou pelo menos alguns conceitos, como: mogno oferece mais sustain, maple tem mais ataque, e etc... Sem querer desconsiderar que cada madeira possui sim suas características próprias (densidade, velocidade de propagação de ondas sonoras, frequência fundamental, resistência mecânica, disposição dos veios, tempo de secagem, etc...) que acabam no final influenciando no timbre, temos de pensar e um instrumento como um conjunto. Uma vez que passamos a pensar desta forma, fica mais fácil entender que apesar de cada espécie de madeira adicionar suas características ao timbre, esta é apenas uma variável do resultado final de um instrumento.

Construção da guitarra

Quais as diferenças entre duas casas feitas de alvenaria? a construção. A construção envolve desde a competência de quem faz até os métodos empregados na fabricação. Isto explica muito sobre qualquer produto em seu estado final.

Nos instrumentos essa é uma característica quase sempre intangível. É fácil perceber se um instrumento tem melhor ou pior acabamento, mas avaliar a construção é algo mais difícil de se fazer. Exige um conhecimento maior por parte do avaliador (no nosso caso um músico) e algumas informações adicionais como:

  • em que país/fábrica é fabricado um instrumento;
  • se é customizado ou se é fabricado em série;
  • se é fabricado a mão, ou por máquinas;
  • quais os métodos empregados na fabricação;
  • quanto controle de qualidade há em todo o processo, entre outras.

Projeto

Um dos aspectos de grande importância em um instrumento é seu projeto. Por exemplo, um instrumento mal planejado pode ter uma junção entre braço e corpo instáveis, pode dificultar ou até impossibilitar a regulagem das oitavas, ter mal entonação, ter captadores inadequados entre outros problemas. É difícil dizer se um projeto é bom ou ruim. Ao longo do tempo alguns modelos demonstraram terem um projeto excelente, por isto se tornaram clássicos.

A escolha das madeiras é um fator a ser considerado no projeto de um instrumento bem equilibrado. Interfere desde o peso final do instrumento, até na resistência mecânica, no timbre e no visual. Mas ao se pensar no timbre em específico, vários outros fatores influenciam e afetam sua composição:


  • tipo de ponte: afeta diretamente no sustain (sustentação das notas), que é uma das variáveis do timbre;
  • nut: influencia tanto no sustain quanto no timbre. Um nut de osso e um de latão, ou roller nut favorecem sonoridades distintas. Pode se dizer a grosso modo que um roller nut deixa o timbre mais "metalizado", enquanto um de osso ou plástico colabora para suavizar essa característica;
  • tipo e calibre do encordoamento: afeta também o timbre. Cordas de calibre mais pesado oferecem um som mais encorpado, e cordas mais leves/finas deixam o som um pouco mais magro;
  • junção entre braço e corpo: braços colados, parafusados ou neck thru (uma peça atravessando todo o corpo) alteram o timbre em sustain e ataque.
  • captadores: uma Les Paul com captadores P-90 e a mesma guitarra com um par de captadores ativos sofrerão uma alteração considerável no timbre. No geral os captadores influenciam tanto quanto as madeiras no timbre final, ou pelo menos bem perto disso;
  • tipo de corte das madeiras: há vários tipos de corte que são feitos nas toras brutas de madeira com a finalidade de obter um melhor aproveitamento econômico. Entre os principais estão o quarter-sawn, flat-sawn e rift-sawn. Cada tipo de corte pode trazer leves mudanças no timbre da madeira. Por isso nem toda braço de maple ou corpo de ash tem o mesmo som;
  • tamanho da escala: influencia na tensão das cordas quando esticadas. Neste sentido, afeta tanto a tocabilidade quanto o timbre, pois cordas mais esticadas costumam oferecer mais ataque.
Enfim, a proposta desse post não é dizer que tanto faz qual a madeira da sua guitarra. No circulo dos guitarristas sempre circula muita informação a respeito do timbre de cada madeira. Essas discussões são saudáveis, e não há problema algum que elas existam. Mas é importante quebrar os mitos e refletir que a madeira corresponde a apenas uma parte do timbre, por isso um instrumento não pode ser julgado apenas pela madeira do corpo ou do braço.

Obrigado por ler este post.





3 comentários:

Deixe aqui seu comentário, dúvida ou sugestão: